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30 de Setembro de 2001

 A Empresa e sua Caixa Preta


Os negócios de uma empresa têm que ser acompanhado de perto, com muito cuidado e análise. Cada evento tem que ter um indicador de performance. Estes indicadores servem de instrumentos que indicaram o rumo a ser tomado, em caso de haver indícios de perda de competitividade, qualidade e eficiência, ajudando a recompor a estratégia.

Muitos sabem que uma gestão perfeita passa por uma definição e conhecimento das ferramentas de finanças. Estas ferramentas muitas vezes circulam somente entre poucas pessoas da empresa, e quase sempre não são compreendidos ou bem interpretados.

Quem já não ouviu expressões como estas: - Esses relatórios só servem para o pessoal da contabilidade! - São uns montes de tabelas que não servem para nada! - Eu não preciso dos números do financeiro para sabem como vender, produzir, comprar, etc, etc...


Isto me lembra uma história que circulava numa empresa em que trabalhei. O pessoal dizia o seguinte. - Esta empresa se parece muito com um avião voando acima das nuvens, e se a gente quiser saber o que contém nos seus relatórios gerencias teremos que derrubar o avião e abrir a caixa preta.

É lógico que há um exagero, mais isto é uma alerta, e as empresas estão descobrindo. Para se ter um sistema de informações para tomada de decisões, haveremos de treinar os gestores, expor o seu conteúdo, bem como sua forma de gestão e responsabilidades para todos da empresa.
Os relatórios gerencias tem grande parte dos dados vindo da área financeira da empresa, porém as áreas que compõem o processo da empresa devem aprender um pouco de finanças e se envolver na gestão da empresa, por outro lado à empresa deve cobrar responsabilidade dos gestores.


Os mais recentes métodos de análise financeira trabalham com indicadores de desempenho, ou indicadores chaves de performance(CFROI, EVA, Balanced Scorecard, etc.), porém acredito que as empresas devem compor e ensinar o básico de finanças para todos os seus gestores antes de partir para um sistema mais complexo de análise, pois se não o fizerem irão continuar administrando com a caixa preta, onde poucos irão compreender o que tem dentro.


Uma das formas de gestão mais básica de finanças para a maioria das empresas é a análise do balanço e dos resultados financeiros, abaixo proponho um simples exemplo de como analisar e propor mudanças de rumos para melhorar o desempenho financeiro da empresa.

Os números abaixo apresentados mostram que esta empresa obteve lucro nos dois anos analisados, porém isto não é suficiente para o dono da empresa gerar caixa, e analisando superficialmente o dono da empresa não consegue entender, pois cortou custos, investiu em novos equipamentos, demitiu funcionários e realmente sua empresa está extremamente enxuta. O que então pode estar acontecendo que ele não percebeu?

B A L A N Ç O P A T R I M O N I A L

A T I V O
P A S S I V O

2000
2001

Realizável

Disponibilidade

100

850

Aplicação Financeira

1.293

1.793

Outros Créditos

1.500

1.100

Outras Não Operac.

1.000

1.150

3.893

4.893

Ativo Circulante

Clientes

30.000

35.000

Estoques

5.000

8.000

Impostos a Recuperar

2.500

5.000

52.500

72.000

.

.

Realizável L.Prazo

1.000

1.000

.

.

Ativo Permanente

Investimentos

2.000

2.000

Imobilizado Líquido

60.000

67.000

Ativo Diferido

1.500

2.700

63.500

71.700

.

.

2000
2001

Financeiros

Empréstimos / Financiam.

4.941

2.297

Duplicatas Descontadas

5.500

2.500

Outras Não Operac.

3.000

1.750

13.441

6.547

Operacional

Fornecedores

18.000

19.000

Impostos à Pagar

1.800

3.000

Salários e Encargos

2.500

2.800

Outros Operacionais

3.000

1.000

25.300

25.800

Exigível Longo Prazo

Empréstimos / Financiam.

3.000

5.951

Outros

2.000

5.000

5.000

10.951

Patrimônio Líquido

Capital Social

70.000

70.000

Reservas de Capital

300

300

Lucro/Prejuízo Acumulado

6.852

33.995

77.152

104295

Total Ativo

120.893

147.593

Total Passivo

120.893

147.593

DEMOSTRATIVO DE RESULTADOS

2000
2001

Receita Operacional Bruta

200.000

195.000

[-] Devoluções e Abatimentos

600

1.000

[-] Impostos sobre Vendas

10.000

9.750

[=] Receita Operacional Líquida

189.400

184.250

[-] Custos das Mercadorias Vendidas

125.000

100.000

[=] Lucro Bruto

64.400

84.250

[-] Despesas com Vendas

3.000

4.500

[-] Depesas Gerais e Administrativas

24.000

15.500

[-] Honrário dos Administradores

12.000

16.000

[=] Lucro Antes dos Juros e do Imposto de Renda

25.400

48.250

[-] Receita / Despesas Financeiras

11.000

10.000

[=] Lucro Operacional

14.400

38.250

[-] Receita / Despesas Não Operacionais

5.500

3.000

[=] Lucro Antes do Imposto de Renda

8.900

35.250

[-] Provisão Para Imposto de Renda e Contribuição Social

1.514

5.993

[-] Participações e Contribuições

534

2.115

[=] Lucro Líquido

6.852

27.143


O que está acontecendo pode ser explicado se o dono da empresa tivesse acesso a um relatório chamado análise do ciclo operacional da empresa. Neste relatório vamos observar que a empresa está financiando terceiros, veja que o prazo dos clientes é superior ao prazo dado aos fornecedores, veja que a empresa aumento o nível de dias dos cheques pré-datados e além disto está com um estoque muito alto. Resumindo o dono da empresa teria que equilibrar este balanço de dias. Ao proceder desta maneira, gerará uma tesouraria ativa.

CICLO OPERACIONAL

2000

2001

Ajuste

Clientes

54

65

30

Cheques Pré-datados

9

15

6

Estoques

27

41

10

Impostos à Recuperar

5

9

5

[A] Necessidades em dias

95

129

51

Fornecedores

32

35

44

Impostos à Pagar

3

6

6

Salários e Encargos à Pagar

5

5

5

Outros Contas à Pagar

5

2

5

[B] Financiamentos em Dias

46

48

60

[A] - [B] Cliclo Operacional em Dias

49

82

(9)


Para melhorar o exemplo aqui eu propus um ajuste do ciclo operacional, de forma que equilibrasse a necessidade de caixa futuro da empresa. Veja no quado abaixo, saindo de uma tesouraria negativa nos períodos anteriores para uma tesouraria positiva conseguida pelo ajuste proposto.

T E S O U R A R I A(*)

2000
2001
AJUSTE

Vendas Mensais Médias

16.667

16.250

16.250

Capital de Giro

17.652

42.546

43.546

Necessidade de Capital de Giro

27.200

44.200

(4.722)

Tesouraria

(9.548)

(1.655)

47.268

ESTRUTURA DE CAPITAIS(*)

2000
ATIVO
PASSIVO

Tesouraria

3.893

13.441

Operacional

52.500

25.300

Permanente

64.500

82.152

2001
ATIVO
PASSIVO

Tesouraria

4893

6547

Operacional

70.000

25.800

Permanente

72.700

115.246

Ajuste proposto
ATIVO
PASSIVO

Tesouraria

47.268

0

Operacional

27.625

32.347

Permanente

72.700

115.246

CONCLUSÃO
O exemplo acima mostra como os gerentes que dominarem as ferramentas de finanças, aliados ao conhecimento do negócio e atento ao plano estratégico, podem levar uma empresa ao sucesso financeiro, criando assim valor para a empresa.
Não deixe que sua empresa seja vista como um avião e seu sistema gerencial como uma caixa preta. Seus empregados, fornecedores e cliente têm que conhecer e compreender bem as suas ferramentas de gestão.

Para as pessoas que estiverem interessadas em receber um arquivo em excel contendo um pequeno sistema financeiro criado por mim para compor os dados acima, por favor me envie um e-mail solicitando, terei imenso prazer em lhes enviar. O arquivo contém outras análises além da apresentada aqui.

Informações do Sistema:
Arquivo em Excel
Dados: (*)Balanço, Demonstrativo de Resultados, Ciclo Operacional da Empresa, (*)Estrutura de Capitais, (*)Tesouraria, Sistema Dupont de Análise, Economic Value Added, Indicadores Financeiros e ROCE.

Bibliografia:

Tracy, John A. - MBA Finanças, Editora Campus 2000
Revista HSM Management - no. 14 Mai/Jun 1999 Além dos Números, por Peter Leitner
ERA Revista de Administração de Empresa FGV Abr/Mai/Jun 1996 - Artigo: Necessidade de Capital de Giro e Nível de Vendas - José Paulo Alves Fusco
Building Value With Capital - Structure Strategies - Henry A . Davis e Willian W. Sihler - publicado por Financial Executives Research Foundation, Inc
(*) Baseados na metodologia desenvolvida por Armando Rasoto, professor de Finanças dos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade Católica de Administração e Economia - FAE de Curitiba, Pr.

By Lauro