Serie Empresarial

Home

Serie Empresarial
e-Zine da Gestão


A e-Zine sobre Gestao Empresarial

temp

14 de Fevereiro de 2001
Lauro Jorge do Prado

 

A contabilidade não é uma especialidade técnica e limitada, mas sim uma ferramenta essencial para a renovação e transformação da empresa.

Embora seja uma das mais antigas disciplinas, sua origem se deu no século XV com a invenção das partidas dobradas por mercadores venezianos, ainda hoje ela se encontra em desenvolvimento. O principal alavancador deste desenvolvimento é a capacidade de processamento da informática e o avanço da internet se apresentando como uma ferramenta de realização de negócios.

O intuito deste texto não é contar a história da contabilidade nem descrever o seu funcionamento, o objetivo é expor alguns fatores que limitam ou não estão sendo observados atualmente na gestão das empresas.

FORMAÇÃO PROFISSIONAL

A formação profissional é fato muito curioso nos dias de hoje, o jovem vai para a faculdade recebe um carga enorme de teoria(necessária), faz exercícios baseados nos sistemas tradicionais, isto "escrituração manual". Quando ele saí da faculdade vai para uma empresa onde a contabilidade é parte de um sistema financeiro computadorizado e intregrado a outros sistemas e ele tem o primeiro desencanto. O que ele aprendeu a fazer(débito, crédito, balancetes, razões, Análise de Balanço, etc. ) não é necessário, pois o sistema faz isto de forma automática e super rápida.
O profissional que deveria sair da faculdade pronto para ser um Analista de Negócios, acaba virando um assinador de balanço, ou no caso das pequenas empresas um apurador de impostos.
Na verdade o que estou demonstrando não é uma crítica ao que o profissional aprendeu, estou criticando é aquilo que não foi ensinado, isto é: PENSAR, ANALISAR, INOVAR, GERIR, ANTECIPAR O FUTURO, ETC. Muitas faculdades já estão praticando este modelo e outras estão revendo o seu método de ensino, porém a realidade está atropelando aqueles cujo modelo de ensino parou no tempo.

SISTEMAS INTEGRADOS(ERP)

A grande maioria dos pacotes integrados disponíveis no mercado brasileiro são vendidos como resposta para a perfeita gestão contábil das empresas, porém na hora de implantar surgem as primeiras dificuldades, há necessidade de tropicalização (termo inventado pela consultorias para justificar a deficiência dos pacote em parametrizar situações particulares de cada país, estado, município e mesmo ramo de negócio). Isto não é privilégio dos pacotes estrangeiros, os nacionais também enfrentam dificuldades de ajustes, só que em menor grau.
O que acontece quando se adquire um sistema integrado ele não atende 100% das necessidades e ao implantar sempre fica alguma coisa de fora. Neste ponto é que entra o profissional de contabilidade, que deve fazer valer os seus conhecimentos e suprir a falha desses pacotes.
Os módulos destes pacotes tendem a serem estáveis, e fazem muito bem aquilo que é sua proposta, porém a contabilidade é cheia de nuances e características advindas de cada setor de negócio ou região, aí a necessidade de algumas considerações:
a) As empresas desenvolvedoras de sistemas integrados deveriam desenvolver soluções voltadas para o negócio do cliente;
b) Os profissionais como usuários de sistemas integrados deveriam ter um bom conhecimento de contabilidade, tecnologia de informação e o mais importante, conhecimento do negócio de sua empresa.

CONTABILIDADE E A GESTÃO DOS NEGÓCIOS

A contabilidade tradicional não capta os avanços da revolução da informação, sua forma de registro e base de dados não nos dão resposta rápidas, não apontam para o futuro. Muitos concordam que o modelo contábil que aí está foi desenvolvido para economias industriais, onde a riqueza estava baseada na propriedade física. Porém com o avanços tecnológicos, globalização e a chamada nova economia a contabilidade requer uma revisão urgente.
Um bom exemplo são as empresas de tecnologia que tem o seu valor de mercado até 100 vezes o valor dos ativos tangíveis de registro contábil. Em um outro exemplo: nos Estados Unidos em 1929 as empresas concentravam 70% dos seus investimentos em bens tangíveis, nos anos 90 isto se inverteu: essa mesma percentagem está sendo aplicado em intangíveis.
O que estou dizendo é que hoje em dia as empresas não são avaliadas por seus registros contábeis, a sua riqueza e medida pelo valor de capitalização de mercado.
Aí pergunta-se como avaliar esta empresa pelo viés contábil? Qual é o valor criado pelo cliente? Qual é o valor criado pelo fornecedor? Qual é o valor do capital intelectual?
A principal característica da contabilidade tradicional é o registro de atos e fatos. Isto quer dizer que a contabilidade só mostra o passado, e o máximo que podemos obter é descobrir sinais de turbulências e corrigi-la, ou ainda oferecer insigths para os gerentes .
Além da busca para transformar a contabilidade em uma ferramenta voltada também para o futuro, há necessidade de incorporar nos seu modelo de registro os valores referente aos intangíveis.

Exemplos de intangíveis:

1. Patentes e tecnologia em andamento;
2. Direitos de "copyright";
3. Marcas;
4. Capital Humano e organizacional;
5. "Goodwill"
6. Satisfação dos Clientes e fidelização;
7. Etc.

MODELO FISCAL E SOCIETÁRIO

Os clientes da contabilidade podem ser internos e externos, dentro dos clientes destacamos os externos como o governo que acaba sendo o nosso maior cliente, pois parte do tempo e recursos da empresa é para atender Receita Federal, Estadual e Municipal, e caso seja uma empresa de capital aberto tem que atender a CVM com informações trimestrais.
Com o que descrevi acima vemos que a nossa contabilidade esta se aprimorando e se convertendo numa ferramenta para fins de arrecadação de impostos, fugindo ao perfil de negócios da empresa.
Talvez uma reforma tributária com a diminuição dos números de impostos e com a simplificação dos modelos de livros fiscais e publicações obrigatórias reconduzisse a contabilidade ao seu trilho principal.

CONTABILIDADE POR ATIVIDADES

Com introdução de novas ferramentas de gestão baseada em indicadores de performance tais como "Balanced Scorecad", EVA(Economic Value Added), CFROI, Custeio por Atividade, Etc. deveríamos também evoluir a ferramenta contábil implantando o modelo de Contabilidade por Atividade substituindo a tradicional.
A Contabilidade por Atividade não é uma novidade pois varias empresas já utilizam, por exemplo: General Dynamics, Forth Worth Division, General Motors, Hewlett-Packard, Siemens etc.
Um dos principais motivos da contabilidade por atividade é exatamente por enfocar os negócios e traduzir a empresa em centros de excelência.

Excelências da Contabilidade por Atividade:

Melhora a decisão de comprar ou fabricar, estimar e definir preços;
Facilita a eliminação de desperdícios;
Indica a origem dos custos;
Liga a estratégia corporativa à tomadas de decisões operacionais;
Encoraja a melhoria contínua;
Ajuda na decisão quando exige mudança rápida nos cenários de negócios, etc

CONCLUSÃO

Criticar um modelo sem oferecer soluções é leviano, porém olhar o status e acomodar é pior, assim ao levantar estas questões que podem nos levar a discussão e quem sabe a uma melhoria do modelo contábil que ora usamos para controle e gestão dos nossos negócios, acredito que estou contribuindo de alguma forma. E que esta contribuição fortaleça o método, a ferramenta e além disto realce novamente o profissional da contabilidade seja ele o contador ou analista de negócios.
A contabilidade não dever ser um instrumento burocrático, tendo somente a visão societária, deve se transformar em um agente de gestão. O mais importante é que a contabilidade incorpore o pensamento estratégico da empresa.

Bibliografia:

Catelli, Armando - Controladoria - Uma Abordagem da Gestão Econômica, EditoraAtlas 1999
Tracy, John A. - MBA Compacto - Finanças, Editora Campus 2000
Bruner, Robert F. - MBA Curso Prático, Editora Campus 1999
Brimson, James A. - Contabilidade por Atividadades- Página 27
Revista HSM Management no. 20 maio-junho 2000 página 34 - A Matemática da Nova Economia.

By Lauro

Obrigado por ler esta materia!

lauroprado@pisa.com.br